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Vigilantes se tornam alvos de criminosos

10 Abr

Vítima de rixa ou crime de latrocínio (roubo seguido de morte), a morte do vigilante Rafael Rebelo Sousa, de 21 anos, ocorrida por volta das 4h do dia 29 de março, reacende a discussão sobre os riscos que esses profissionais estão expostos no exercício de sua função.

O crime ocorreu em um bar localizado na travessa WE 12, Cidade Nova II, em Ananindeua. O caso, por sua vez, foi registrado na Central de Flagrantes (Ceflag) da 3ª Seccional Urbana da Cidade Nova e está sendo investigado pelo diretor da unidade, delegado Vicente de Paulo da Conceição Costa.

No dia do crime, ainda sem muitas respostas, Rafael foi atingido por três tiros, dois deles no rosto. A motocicleta modelo Suzuki Yes, placa JVB-2413, de cor vermelha, usada por Rafael foi roubada e transformada em veículo de fuga para os bandidos. A moto usada por Rafael pertencia à empresa para a qual a vítima trabalhava.

O roubo levantou a hipótese de latrocínio. Entretanto, conforme informações colhidas pela delegada Claudia Renata Guedes, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, familiares e amigos de Rafael comentaram que o crime pode ter sido motivado por uma antiga rixa. O vigilante estava trabalhando no local há apenas uma semana.

No ano passado, segundo o presidente do Sindicato dos Vigilantes do Pará (Sindivipa), Juber Lopes, foram registradas duas mortes de vigilantes em serviço, apenas na área de vigilância patrimonial. Outros quatro profissionais foram baleados. De acordo com dados da Polícia Federal do Pará, a função, até novembro do ano passado, mantinha 59 mil trabalhadores inscritos e devidamente autorizados a exercer a profissão.

Apesar disso, apenas 14 mil vigilantes estão em atividades em todo o território paraense, contratados por empresas prestadoras de serviços de vigilância patrimonial e de transporte de valores, além de empresas com outras atividades econômicas, que possuem quadro de vigilância próprio. "Consideramos esse número insuficiente", afirma Juber. "As escolas estaduais e os postos de saúde, por exemplo, são locais no qual os servidores e a população estão expostos à insegurança e o patrimônio à ação de vândalos, pois a PM e a Guarda Municipal não entram. Esses locais tiveram vigilância privada no passado que, por decisões equivocadas de gestores públicos, foram retirados".

Ainda de acordo com o presidente do Sindivipa, a categoria sofre com a insegurança em todo o Brasil. No Pará, desde a fundação do sindicato, em 1986, mais de 30 vigilantes já morreram em serviço, razão pelo qual fazem parte de uma frente nacional pelo reconhecimento do risco da profissão - o Projeto de Lei nº 1.033/2003, que aguarda entrada na pauta para votação da Câmara Federal.

"Se tivermos a aprovação da lei, vamos encampar uma segunda frente de batalha pela redução do tempo de aposentadoria do vigilante para 25 anos de serviço. Aqui no Estado conseguimos negociar com os empresários o pagamento de um adicional de risco sobre os salários que atualmente está em 10%, mas atingirá o teto de 30% na proporção de 4% a cada ano", acrescenta Juber.

Aprender a manter a atenção é fundamental

Para o vigilante Alberto Pinheiro, de 35 anos, os 14 anos de profissão ensinaram que é preciso se adaptar as situações. Atualmente protegendo um órgão público, ele destaca dois pontos como requisitos fundamentais para quem busca a carreira: gostar muito do que faz e manter a atenção independente da situação. "Eu me identifiquei com a área desde cedo, pois quando mais jovem eu praticava artes marciais e era convidado para fazer bico como segurança em eventos, casamentos e aniversários. Foi neste período que eu descobri o curso para vigilantes, cumpri os requisitos e não parei mais", afirma.

Além disso, o trabalhador também considera a constante adaptação, conforme o tipo de serviço, como fator importante para conseguir se manter vigilante por tanto tempo. "Eu já trabalhei em pelo menos 50 estabelecimentos, em empresas diferentes, cada uma delas, do mesmo grupo ou não, têm suas características e modus operandi (modo de operação) próprios. É preciso estar atento as diferenças e não esquecer que enquanto funcionários e clientes podem estar distraídos você jamais deve estar", destaca.

Para Alberto, a função do vigilante pode ser resumida em três características ou etapas: a prevenção de ocorrências, a identificação de suspeitos e a repressão, quando necessária. Ao longo dos anos, inclusive, o vigilante destaca que teve contato com muitos colegas e também a infelicidade de ver alguns perderem a vida.

"Até hoje nunca me envolvi em troca de tiro com invasores ou coisas do gênero. Já passei, sim, por situações de perigo, como tentativas de invasão, mas consegui reprimir com êxito", lembra Alberto.

Mulheres também começam a ocupar postos

O mesmo pensamento é compartilhado pela vigilante Aliandra dos Reis, de 25 anos. Ela faz parte de um pequeno grupo de mulheres que atuam nesta área e tem três anos de experiência. "Eu me identifiquei com a profissão aos poucos, conforme fui conhecendo as minhas atribuições e comecei a trabalhar como vigilante. Primeiro eu me interessei pelo salário oferecido. Admito que, logo de cara, não considerei os riscos da profissão. Depois percebi que a profissão exige coisas que eu já aplicava no meu dia a dia, então me acostumei", resume.

Com relação ao fato de ser mulher, Aliandra afirma que a discriminação é algo bastante comum, mas não o bastante para fazê-la desistir da carreira. "A maioria das pessoas acredita que as mulheres não são capazes de exercer a função de vigilante, que este é um serviço para homens. Acontece que o serviço não se limita à força bruta, mas principalmente à atenção e inteligência. Ladrão não tem cara e não estou em um recinto para conversar. Estou ali para proteger", acrescenta.

A vigilante, que sempre trabalhou em agências bancárias, acrescenta ainda que o profissional muitas vezes acaba sendo desviado de sua função devido falta de atenção dos clientes. "É bastante comum as pessoas procurarem por um vigilante para pedir informação. Esta não é nossa função, mas colaboramos sempre que possível. Eu, por exemplo, sou abordada no mínimo 30 vezes ao dia durante minha jornada de trabalho. Infelizmente, tenho de ser breve e clara, pois não posso perder de vista a movimentação ao meu redor e muitas pessoas não entendem isso", destaca Aliandra.

Cursos de aperfeiçoamento devem ser setorizados e frequentes

Em maio do ano passado, o vigilante de um posto de gasolina localizado no km 6 da rodovia Augusto Montenegro, no distrito de Icoaraci, foi rendido e baleado à queima-roupa na cabeça durante uma tentativa de assalto. Waney Emanuel Rodrigues, de 31 anos, foi abordado por dois homens em uma motocicleta, a dupla fingiu estar no local apenas para abastecer o veículo. Sem perceber a movimentação, o vigilante foi rendido pelos bandidos e obrigado a se ajoelhar.

De acordo com informações cedidas pela Polícia Militar, os assaltantes apenas pediram a arma da vítima, no entanto, no momento em que Waney entregou o revólver calibre 38, um dos homens atirou à queima-roupa contra ele. Os dois fugiram em seguida. Levado às pressas para o Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), em Ananindeua, a vítima ainda chegou viva, mas devido à quantidade de sangue perdida Waney entrou em coma, morrendo no mês seguinte.

Para o presidente do Sindivipa, vários fatores devem ser reavaliados e alterados para que "atentados" contra seguranças deixem de ser comuns. "Em primeiro lugar, a Polícia Federal precisa fiscalizar mais frequentemente as academias de formação de vigilantes para que esses trabalhadores possam ser bem preparados para a atividade que inegavelmente é de risco. O vigilante mal preparado está mais vulnerável as ações criminosas. Precisa haver mudança na lei para que os vigilantes possam passar por cursos de aperfeiçoamento de maneira mais constante, pois entendemos que dois anos é um período muito longo para o retorno dos profissionais à academia", destaca.

Ainda segundo Juber, uma alteração na lei também precisa incluir cursos específicos, e obrigatórios, para cada seguimento, conforme os exemplos citados por Aliandra, pois "um vigilante que trabalha em banco enfrenta uma rotina diferente daqueles que trabalham em um hospital". Além disso, o sindicato defende que a motivação dos crimes contra os vigilantes devem ser elucidados, já que a maioria dos criminosos visa roubar o revólver e o colete balístico dos profissionais para cometerem outros crimes.

Por conta disso, o sindicato vem cobrando uma nova postura das autoridades que fazem frente à segurança pública no Pará, e empresas, para que realizem um "diálogo de segurança", pelo menos a cada seis meses. "Trata-se de uma cláusula da convenção coletiva que visa orientar e manter o trabalhador atualizado sobre o risco da profissão, de forma que ele esteja sempre atento à própria segurança e o serviço em si. As empresas que não cumprirem esta determinação serão acionadas judicialmente pelo sindicato, inclusive com cobrança de multa pelo descumprimento", adianta Juber.

Exigências para se tornar vigilante

 O candidato ao cargo deve ser brasileiro, ter idade mínima de 21 anos, obter aprovação nos testes físico e psicológico, além de enfrentar um curso de formação com duração de 160 horas – que inclui aulas teóricas e práticas de tiro. Também é obrigatório que o candidato não tenha antecedentes criminais – não pode ser indiciado ou estar respondendo processo na Justiça.

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