Cancelar
Acesso CNTV

Profissão: vigilante, a história de Edenisia

09 Mar

Irati – Ao contrário de muitas mulheres, ela não é apaixonada por sapatos de salto alto e nem por vestidos, sequer utiliza maquiagem no seu dia a dia, no máximo um batonzinho básico, como afirmou em entrevista. Mas nem a ausência de estigmas tão marcados do universo feminino consegue tirar a feminilidade da única mulher que atua como vigilante em Irati. Casada há 18 anos, Edenisia Krezanoski é um exemplo de persistência na busca por um sonho. Além de trabalhar numa função que muito marmanjo não tem coragem de encarar, a bela mulher ainda é mãe de Lucas e Leonardo. Desde a adolescência o seu grande sonho era colocar a farda marrom: ela queria ser militar. Mas a família não apoiou muito por acreditar ser perigoso seguir nessa carreira, ainda mais por ser a filha do meio, entre dois irmãos. Então sua vida seguiu por outro caminho: “Casei meio cedo, aos 17 anos, depois quis filhos, quando nasceu o primeiro eu tinha 21 anos”, recorda. Ela resolveu adiar o sonho da busca pela profissão mais um pouco para se dedicar e curtir a criança que acabava de chegar. “Depois quis levar ao colégio, fazer coisas normais de mãe”, brinca Edenisia, e o tempo foi passando.

"Não me olhe como mulher, me olhe como profissional", Edenisia Krezanoski

Com um olho na criança e o outro em editais de concurso da polícia, chegou uma fase em sua vida em que ela resolveu não esperar mais: deixou marido e filho em Irati e foi para Curitiba realizar o curso de vigilante. Na sala de aula percebeu que a maioria dos alunos era do sexo masculino: dos 28 alunos, apenas três mulheres se sobressaíam. Ela lembra as dificuldades inicias quando ia buscar uma vaga no mercado de trabalho: “Eu levava o currículo, a pessoa corria o olho em mim e falava para voltar outro dia, que ia olhar meu currículo, mas passavam os dias e nada, porque sou mulher, então tinha certo preconceito. Por isso que adoro essas empresas que estou no momento”, comemora. O marido sempre a apoiou, até mesmo quando ela conseguiu uma colocação em Curitiba e entre idas e vindas de Irati em suas folgas, ficou afastada quase um ano de sua família.
Chegou um momento em que ela resolveu deixar a capital e regressar para o seu lar, bateu de porta em porta e em menos de uma semana já estava empregada. Desde então, oito anos se passaram e até o momento a vigilante não precisou usar a arma, e nem foi preciso nenhuma intervenção mais severa durante o seu expediente, no máximo uma situação onde a conversa olho no olho foi necessária. “Na minha profissão, dependendo do posto, é obrigatório trabalhar armada, e até hoje eu só trabalhei armada, mas graças a Deus nunca precisei usar. Eu também ando com mais outros itens se proteção, como tonfa (espécie de cacetete) e colete. Tudo isso faz parte do dia a dia, estou sempre armada e uniformizada”, conta Edenisia. E como o marido lida com toda essa situação?
“Desde o começo o Mário (meu esposo) sempre incentivou, ciúmes talvez tenha um pouquinho, porque estou sempre envolvida em eventos, próxima não só dos colegas (que são todos homens), mas também dos homens que participam do evento. Mas graças a Deus, até hoje nunca tive problema com isso, porque sempre fui respeitada”, reforça a vigilante.
Nascida em Irati, Edenisia acredita que o papel da mulher na sociedade – em uma profissão que é mais exercida pelo público masculino – está sendo mais reconhecido, “se há dez anos a situação fosse como está hoje, seria melhor. Claro, que ainda precisa melhorar muito mais, porque ainda em cidades pequenas há pessoas que te olham meio enviesados. Em cidades maiores é diferente, já tem muito mais mulheres trabalhando nessa área. E essa profissão é para quem realmente gosta, porque se não gostar de verdade, não fica”, afirma convicta.


Edenisia explica que o seu dia a dia é normal, envolve atividades comuns de mãe e mulher. “Agora estou de férias, então providencio a comida na hora certa, o uniforme dos meus filhos, lavo roupa, cozinho”. E ainda confessa: “Não gosto muito do fogão, mas faço o que é preciso, lá em casa o que mais gostam de comer é o macarrão na panela de pressão. Todos adoram. Outros quitutes nós preparamos todos juntos, meus piás vão pra cozinha também e meu marido adora cozinhar, sempre estamos juntos na cozinha, um dá uma ideia, o outro dá mais uma ideia e quando me toco, estamos todos na cozinha. O pequeno tem oito anos e já quer ajudar”, expõe a mãe orgulhosa.

Lar
Em seu guarda-roupa um único vestido azul pode ser encontrado (presente que ganhou do marido), e o que predomina são as calças e bermudas. E sapatos de salto alto? Também possui e também são ganhados. “Sou mais do tênis, esse negócio de apertar e virar o pé não é comigo, gosto de conforto. Uso sapato de salto alto, claro. Mas tudo depende dos lugares a que vou. Quando vou para um casamento, por exemplo, eu alugo o vestido, porque eu não tenho, não sei andar no dia a dia de saia, vestido, se eu estou de calças, fico mais a vontade, mas se estou de saia, vestido, tenho que me cuidar como me sento, como me porto, tenho que ter postura de uma mulher. Então sou mais da calça, do bermudão”, brinca. Maquiagem? Além do batonzinho básico? “Nem sei me pintar, tenho maquiagem, mas não uso, tenho até que jogar algumas coisas fora, porque já devem estar vencidas”, lembra.
Quanto às amizades, “não tenho quantidades de amigos e amigas, mas quem frequenta a minha casa é porque gosta mesmo de mim”, explica a vigilante. Quando os filhos estão de férias, a família toda acaba fazendo programas juntos: jogar baralho, bingo, assistir filme estão entre os itens favoritos de diversão. “Ainda estou em férias, mas entre aspas,né? Porque em casa sempre tem serviço, e as férias passam tão rápido… acabo deixando coisas sem fazer”, reforça. A última lembrança de viagem inesquecível de férias com a família aconteceu em 2010, quando viajaram para Foz do Iguaçu. “Foram três dias, mas para mim valeu como se fossem três anos, porque trabalho em dois empregos, não coincide de pegar férias nos dois ao mesmo tempo. Então vou trabalhando, trabalhando, trabalhando e não sobra muito tempo para sair”, expõe.
Desde menina, ela tinha muitas certezas: não queria trabalhar com nada que envolvesse, papel, caneta, computador. “Quer me ver nervosa? Basta me colocar na frente de um computador, me deixar por muito tempo ali mexendo, eu até fico na internet, mas é pra ver uma receitinha da Ana Maria Braga, para ver o meu signo, mas pra mim, ficar na internet mais do que 40 minutos é muito difícil”, destaca.
Aliás, como taurina assumida que é, Edenisia afirma que é uma boa representante do seu signo. De acordo com a definição de um site da internet (http://www.sempretops.com/signos/mulher-de-touro-taurina), a mulher de touro sempre anda tranquila, dificilmente perde a linha, é materialista e dificilmente demonstra emotividade. Algumas coisas fazem com que perca a paciência, somente uma boa provocação e injustiça podem fazer com que tirem ela do sério. Pois ela pode fica uma fera e até mesmo perde o controle de suas ações. Isso é péssimo, pois a taurina não será amigável, por isso que ela se controla muito bem para não perder a estribeiras.
E qual é o próximo sonho de Edenisia? Ela quer ser agente penitenciário e novamente está de olho nos concursos públicos. “É perigoso como em todo lugar é, mas tem mais estabilidade e quero dar um futuro melhor para os meus filhos, porque educação é algo que nunca vão poder tirar deles. Para quem ainda ousa a olhar com certa discriminação para Edenisia, pelo simples fato dela ser a única mulher a atuar como vigilante em Irati, ela dá o recado. “Paguei o curso que eu fiz, o curso que qualquer homem fez de vigilante, eu também fiz, então não tem diferença nenhuma, sempre digo assim ‘não me olhe como mulher, me olhe como profissional, porque se for para puxar a arma, eu puxo mesmo e não quero nem saber’”, finaliza.

Texto: Gisele Manjurma, Da Redação

0 comentários para "Profissão: vigilante, a história de Edenisia"
Deixar um novo comentário

Um valor é necessário.

Um valor é necessário.

Um valor é necessário.Mínimo de 70 caracteres, por favor, nos explique melhor.