Cancelar
Acesso CNTV

RJ: milícia cobrava até por água e lucrava R$ 300 mil por mês

08 Mar

Operação deflagrada pela Polícia Civil nesta quarta-feira em Duque de Caxias (RJ), Baixada Fluminense, revelou uma nova modalidade de crime praticado por uma milícia em 15 bairros da cidade. Além da cobrança de taxas pelo fornecimento de TV a cabo ilegal, distribuição de gás e segurança privada, os criminosos, de acordo com as investigação, cobravam taxas de moradores para eles terem fornecimento de água em casa.

A cobrança foi descoberta nas investigações que resultaram na Operação Pacificador, deflagrada na manhã de hoje, e que prendeu 15 pessoas até agora, das quais nove policiais, acusados de pertencerem à milícia do Jonas, em alusão ao ex-vereador Jonas Gonçalves Dias, o Jonas é Nós. Ao todo, foram expedidos 28 mandados de prisão, e as equipes seguem na rua em busca dos acusados.

"Nunca tínhamos identificado algo assim. As milícias da zona oeste do Rio não faziam esse tipo de cobrança", comentou o promotor Carlos Jorge Magno, do subcoordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual.

A investigação aponta que esses milicianos tinham lucro de R$ 300 mil por mês para liberar serviços, como entrega de gás e TV a cabo, nas comunidades por eles dominadas.

Segundo as investigações, era cobrado R$ 10 por pena dágua, um dispositivo que limita o fornecimento de água, estabelecendo um limite máximo de entrada para determinado domicílio.

Classificados como ousados pelos promotores do MP, os milicianos de Duque de Caxias regulavam até mesmo a venda de drogas por parte de traficantes. Com os territórios dominados, permitiam a instalação de bocas de fumo, mediante pagamento de taxa.

"Diferentemente do início da atuação das milícias da zona oeste, em que se expulsavam os traficantes, esses milicianos não tem qualquer ideologia. Visam apenas o lucro. O que existe é o cifrão na cabeça", comentou o promotor Décio Alonso, que coordena o Gaeco.

A ousadia dos milicianos da Baixada pode ser exemplificada também na tentativa de intimidar os investigadores do caso. Eles estariam ameaçado constantemente, e de forma bastante direta, o delegado Alexandre Capote, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) e os promotores do MP.

"Nunca os promotores foram ameaçados de maneira tão franca. Normalmente, são passados recados, falando da possibilidade de que algo possa ser feito contra a pessoa ameaçada. Eles ligavam e falavam a respeito da rotina do alvo deles, e como iriam atacar essa pessoa", afirmou Alonso. Capote e dois promotores do MP, que não tiveram os nomes revelados, têm escolta pessoal contra possíveis ataques.

"Essa milícia tem chamado bastante a atenção, especialmente pela audácia. Eles têm surpreendido por atitude tão ou mais violenta do que a milícia da zona oeste", acrescentou o promotor.

Vinte e cinco das 28 pessoas que estão sendo procuradas pela polícia tinham sido presos em 2010, na Operação Capa Preta. Aquela ação prendeu os então vereadores de Duque de Caxias Jonas Gonçalves Dias, o Jonas é Nós, e Sebastião Ferreira da Silva, conhecido como Chiquinho Grandão. Jonas era policial militar reformado. O filho dele, Éder Fábio Gonçalves da Silva, o Fabinho É Nós, também ex-PM, é acusado de ser um dos líderes do grupo.

Eles seguem presos, e desde o ano passado foram transferidos para o presídio federal de Campo Grande (MS). Foi constatado que, quando estavam presos no Rio, eles seguiam comandando normalmente a milícia. Mesmo em um presídio de segurança máxima, existe a suspeita de que eles ainda possam estar repassando algumas informações.

"Essa comunicação diminuiu, mas não dá para dizer com 100% de certeza se não há qualquer orientação ainda", comentou o delegado Alexandre Capote.

Os 25 acusados por formação de quadrilha foram soltos em dezembro do ano passado, para que os prazos do processo não expirassem. Parar deixarem a prisão, no entanto, eles deveriam cumprir algumas condições, como não ficar na rua após as 22h ou permanecer em lugares com grande aglomeração de pessoas.

Depois que todos foram soltos, registrou-se um aumento no número de homicídios nas áreas comandadas pela milícia, sendo que testemunhas do caso foram assassinadas. Desde 2010, nove pessoas que passaram informações sobre os criminosos às autoridades foram mortas. O MP acusa o grupo pelos crimes.

"Quatro pessoas os denunciaram diretamente. As outras cinco vítimas foram mortas porque eles desconfiaram de que poderiam estar testemunhando contra eles", disse Alonso.

As quatro pessoas que denunciaram a milícia não quiseram entrar no programa de proteção à testemunha, garantiu o promotor. Segundo ele, os procedimentos nos inquéritos estão sendo modificados, para que seus nomes não apareçam em documentos relativos à investigação.

Entre os nove policiais presos, está o tenente da PM Samuel Felipe Dantas de Farias, que segundo a investigação, era responsável por coordenar as ações que visava o lucro da milícia. Segundo o delegado da Draco, ele tinha papel de destaque no grupo.

0 comentários para "RJ: milícia cobrava até por água e lucrava R$ 300 mil por mês"
Deixar um novo comentário

Um valor � necess�rio.

Um valor � necess�rio.

Um valor � necess�rio.Mínimo de 70 caracteres, por favor, nos explique melhor.