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O custo da insegurança

16 Jan

A
infelicidade de uns é a felicidade de outros. Empresas de segurança que o digam. Enquanto estabelecimentos comerciais, em todos os segmentos, correm para se blindar contra a criminalidade, empresas que atuam neste ramo aumentam seu faturamento em cerca de 35% ao ano no Rio Grande do Norte. Algumas, porém, chegam a registrar crescimento superior a 100%.
Se faturam R$ 300 milhões num ano, no outro faturam R$ 600 milhões.

A empresa de João Gabriel (o nome é fictício para proteger a identidade da fonte), que atua há menos de cinco anos no mercado potiguar, registrou incremento de 200% em seu faturamento no último ano. O número de vigilantes contratados subiu 20 vezes no período, passando de 30 para 600. Só no mês passado, a empresa contratou 80 vigilantes. Há 56 vagas abertas. Wellington Mangabeira é gerente de eletrônica de outra empresa de vigilância no estado e afirma que a procura pelos serviços tem aumentando, no mínimo, 15% ao ano.

Aldair Dantas

Setores como shoppings e postos de combustíveis gastam cada vez mais para se blindar contra a criminalidade e impulsionam os negócios de segurança privada no estado

Para Dyogo Fernandes, professor do curso de Administração e Gestão Financeira da Universidade Potiguar e consultor na área, há uma inversão de papéis. "Se as pessoas estão investindo em segurança privada é porque há carência na segurança pública", analisa. A pesquisa Sinduscon-Consult, divulgada recentemente mostrando avaliações das três esferas de governo, reforça a afirmação do especialista. De acordo com a pesquisa, os natalenses querem mais segurança. Parte da arrecadação do estado, cuja fonte são os impostos, deve ser revertida em investimentos nesta área. Mas parece que não tem surtido efeito.

Pedro Ricardo
Freire, por exemplo, reclama da falta de policiamento em Redinha Nova, Extremoz. Ele abriu um mercadinho no bairro e já foi assaltado várias vezes. Para evitar novos assaltos, colocou uma grade e instalou câmeras de segurança. Os clientes fazem os pedidos da calçada. Pedro recebe o dinheiro, pega o item e o entrega através da grade. Apesar do investimento, o comerciante não consegue dormir. "Passo a noite inteira vigiando. Vivo assustado".

Indústria e comércio lideram investimentos

Indústria e comércio são os setores que mais investem nesta área, segundo o consultor Dyogo Fernandes. Supermercados e farmácias se destacam neste cenário. Os supermercados no estado gastam cerca de 1% de seu faturamento mensal com segurança. Pode parecer pouco, mas não é, assegura Geraldo Paiva Júnior, presidente da Associação de Supermercados do RN. "As grandes redes faturam muito, por isso o investimento parece baixo".

Alvo fácil na mão dos bandidos, o setor de transporte
público também tem investido mais. As garagens são guardadas por seguranças armados. Há câmeras de segurança na maioria dos ônibus. E alguns deles também são rastreados. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros do Município de Natal (Seturn), o setor gasta R$ 100 mil por mês com segurança armada, sistema de câmera, vigilância e transporte de valores. O valor não representa nem 1% do faturamento do setor, que segundo Augusto Maranhão, diretor de comunicação do sindicato, não ultrapassa R$ 18 milhões por mês. Apesar do investimento, o número de assaltos e arrastões em ônibus ainda é alto. Só entre 1º e 10 de janeiro, foram registrados nove assaltos em ônibus na capital, o que dá uma média de quase um assalto por dia.

Evolução

Segundo Dyogo Fernandes, estabelecimentos comerciais gastam, no máximo, 15% de seu faturamento com segurança privada. Isso porque há outros custos prioritários, como a folha de pagamento, por exemplo. O gasto, segundo ele, tem subido tanto em empresas de pequeno quanto de grande porte, independente do segmento em que atuam. No Natal Norte Shopping, um dos maiores da cidade, por exemplo, os gastos com segurança subiram 16,4% nos últimos três anos, passando de R$674 mil para R$785 mil.

O Midway Mall, que preferiu não divulgar o valor destinado a área, foi assaltado na última quinta-feira. Assaltantes se dirigiram a agência de uma operadora de planos de saúde, levaram os valores que estavam no caixa - quantia não revelada - e os pertences dos funcionários. Na saída, atiraram para criar confusão entre os frequentadores e afastar os seguranças do estacionamento, facilitando a fuga.

Tecnologia é aliada na área de prevenção para empresas

O posto de combustíveis gerenciado por Edilson José Fragoso gasta R$ 14,2mil com segurança privada por mês, sem contar o valor gasto com transporte de valores. O investimento subiu 42% em menos de três anos.
Edilson não se arrepende. Segundo ele, o posto, que é monitorado por 18 câmeras de segurança e vigiado por três seguranças armados (um por turno), nunca foi assaltado. "Já o vizinho já foi assaltado duas vezes",afirma Edilson.

A concessionária de veículos importados gerenciada por Diogo Batista gasta, no mínimo, R$ 12 mil por mês. O movimento na empresa é monitorado por 20 câmeras de segurança e os pátios de veículos, guardados por seguranças armados. Cada veículo é segurado e o dinheiro da empresa transportado por empresas de valores, oque eleva ainda mais os custos no final do mês.

Há menos de um ano como diretora administrativa de uma boutique na avenida Afonso Pena,Maria Lourdes Pedrosa Pinto já contratou um vigilante e instalou oito câmeras de segurança. "No início, não tínhamos segurança nenhuma.
Constatamos, porém, que era preciso se proteger". O valor gasto por mês já chega a R$2,5 mil. Todas as roupas são seguradas, o que também eleva os custos. "O preço é salgadíssimo, mas não podemos economizar. Os seguros cobrem as roupas, mas não a vida dos nossos funcionários", relata. Maria já planeja instalar mais câmeras este ano, é uma das potiguares que contribuem para o crescimento do setor de segurança privada.

Entre os maiores alvos, farmácias investem 5% do faturamento

O setor farmacêutico chega a destinar 5% de seu faturamento para segurança privada no estado. Dejalma Lemos, presidente do sindicato das farmácias do RN, não sabe quanto o setor fatura (já que os estabelecimentos não são obrigados a fornecer informações de caixa ao sindicato), mas dá uma pista: o setor farmacêutico movimenta cerca de R$30 milhões por mês só no estado. "Apesar de todo este investimento, ainda somos bastante visitados", afirma.

Para reduzir o número de assaltos, os donos de farmácias procuraram a Polícia Militar quatro vezes só em 2011, segundo o presidente do sindicato. "Nos reunimos a cada três meses com a PM no último ano. A gente informa os bairros que registraram mais ocorrências e eles (os policiais) nos orientam como agir".

No ano passado, farmácias natalenses foram assaltadas 200 vezes, segundo números do sindicato. "O número é altíssimo. Há farmácias que foram assaltadas mais de uma vez por mês". O que atrai os assaltantes, segundo Dejalma, é o horário de funcionamento das farmácias(algumas funcionam 24 horas) e o fluxo intenso de clientes. O alvo se tornou tão fácil que, segundo Dejalma, já tem farmácia no Estado reservando o dinheiro para o ladrão.

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