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Tecnologia contra o crime

25 Jul

Retrato falado 100% digital ajuda a Polícia Civil a identificar e prender acusados de crimes no Estado

Filipe Faraon

Da Redação

Tecnologia é a maior aliada para traduzir em traços a imagem que está na memória de alguém. Pelo menos é assim na Polícia Civil do Pará, onde os retratos falados são feitos 100% em computador. A semelhança dos desenhos com o rosto de acusados faz com que muitos casos sejam solucionados; já os desenhos menos parecidos apenas ajudam os policiais a restringir o leque de suspeitos.

Hoje, os retratos falados feitos pela polícia paraense são feitos todos pelo computador, diferente de como ocorre no Rio de Janeiro, por exemplo. Por aqui, existe um programa de computador com cerca de 3 mil ferramentas. Desde a montagem das primeiras peças até o acabamento, tudo é feito no computador na Diretoria de Identificação Enéas Martins, em Belém.

Para o chefe do setor na Polícia Civil, o papiloscopista Raimundo Farias, a dependência tecnológica não é uma desvantagem. Apesar de demorarem até três vezes mais para serem feitos em relação aos da polícia carioca, os retratos falados locais são coloridos, em vez de preto e branco. "Além do mais, a referência nacional nessa área está em Brasília, onde os retratos também são totalmente por computador e coloridos", afirma.

A qualidade do retrato falado depende, sobretudo, de dois fatores: a memória da testemunha (ou vítima do crime) e do trabalho técnico dos policiais. É claro que, quanto mais a pessoa se lembrar do rosto do criminoso, mais condições o policial vai ter de reproduzir as lembranças com fidelidade, mas existem técnicas específicas para fazer a pessoa rememorar.

Raimundo Farias diz que tende a ser melhor quando o relato é de quem sofreu a agressão. "O trauma faz com que a pessoa se lembre de muito mais coisa. Quem sofre não se esquece", justifica Farias, há 12 anos no setor de identificação. Outro passo indispensável é levar a pessoa de volta ao local do crime, como forma de reconstituir mentalmente todos os passos do ocorrido. Depois do trabalho psicológico, é importante entender o que a pessoa quer dizer. "Esse tipo de problema ocorre mais no interior do Estado. Se a pessoa diz que o acusado tinha ‘nariz de papagaio’, devo pesquisar para saber exatamente do que ela está falando".

Como os pedaços montados no retrato são fotografias, o resultado parece ser uma foto, mas é inútil procurar uma pessoa de acordo com a imagem feita, pois só por uma coincidência ela vai ser igual à pessoa procurada. O retrato falado, diz o papiloscopista, não é prova de crime, apenas ponto de partida para uma investigação restringir o leque de suspeitos.

Os sete papiloscopistas da Polícia Civil paraense fazem mais de 150 retratos falados por mês. Basta um delegado, de qualquer município do Estado, requisitar o trabalho para a equipe entrar em ação. "Eu já fui até São Félix do Xingu. Não importa a cidade, a gente tem que ir, porque é um trabalho que ajuda em 90% das investigações", garante o policial.

Policiais não veem problemas na imagem de "Nathália Savana"

A Superintendência da Polícia Federal em Belém também tem um setor para reconstituição da imagem de faces com base na memória de testemunhas. Os programas de computador são diferentes, mas usam a mesma lógica dos "Photo fits", de montar partes do rosto como um quebra-cabeça. A maior diferença é que, na Polícia Federal, o serviço é pouquíssimo requisitado.

Neste ano, foi feito apenas um retrato falado, de um suspeito de assaltar agência dos Correios em julho de 2010; ano passado, foram feitos cinco retratos. Normalmente delegados pedem mais o serviço em casos de crimes contra a pessoa - como assaltos e homicídios -, casos investigados com menos frequência na superintendência.

Como os papiloscopistas federais usam o programa com menos frequência, demoram de duas a duas horas e meia para finalizar o trabalho. Assim como na Polícia Civil, depende da testemunha o percentual de semelhança entre a figura e o acusado. Caso seja menor que 70%, o retrato não é utilizado.

Importância - O retrato falado de "Nathália Savana", acusada de participar da morte e esquartejamento do técnico em informática Joelson de Souza em um motel, no último dia 10 de julho, levantou questionamentos da população sobre a utilidade do retrato, pois muitos consideraram a imagem divulgada pela polícia bem diferente da suposta fotografia da mulher. Policiais, contudo, não viram qualquer problema. "É que o leigo tende a perceber primeiro as diferenças, mas o que interessa é o contrário. O retrato serve para eliminarmos pessoas sem aquelas características", explica Raimundo Farias.

Caso a polícia tivesse divulgado apenas que a suspeita tem "entre 38 e 43 anos, pele clara, olhos pequenos e cabelos na altura dos ombros com algumas mechas loiras", o efeito seria menor do que publicar a imagem de um retrato falado com essas características, justifica o papiloscopista. O crime continua sob investigação e ninguém foi preso.

Casos em que o retrato falado ajudou

 Agressores de delegado - Quatro suspeitos da tentativa de assalto que resultou na agressão ao delegado Mário Bermejo, há duas semanas, foram presos a partir das imagens divulgadas pela polícia. Diferente de outras situações, os irmãos Wellington e Williamison Garcia foram retratados com impressionante fidelidade. Especialmente Williamison ficou bem parecido com o retrato falado. Presos, eles - junto com um terceiro irmão, Wellison - foram reconhecidos por testemunhas, restringindo à quase nulidade a possibilidade de erro policial, embora todos negassem participação no crime.

 Assalto a banco - Poucos dias após o retrato falado de dois integrantes da quadrilha que assaltou o Banco do Brasil de Canaã dos Carajás, em fevereiro de 2007, ter sido divulgado, a polícia conseguiu prender os acusados.

 Assassinato de ambientalistas - A Polícia Civil do Pará já divulgou o retrato falado de dois suspeitos de assassinar, em uma emboscada, o casal de extrativistas José Claudio Silva e Maria do Espírito Santo, em Nova Ipixuna. As investigações continuam e os retratos divulgados têm contribuído para o trabalho da polícia.

 Caso Bruna - Em 2005, o instrutor de informática Marcelo Lutier Gomes Sampaio, de 33 anos, foi condenado pelo estupro e morte, por estrangulamento, da adolescente Bruna Leite Sena, de 15 anos. No decorrer da investigação policial, Marcelo tentou despistar a polícia. Criou um personagem "Anjo Vingador", que repassava informações falsas do crime que havia praticado. O retrato falado do acusado foi refeito cinco vezes pela polícia. Em 6 de outubro de 2005, Marcelo foi preso, após um intenso e minucioso trabalho policial. Está preso até hoje.

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