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Indústria da violência

25 Jul

As formas de violência efetiva que acometem cotidianamente os cidadãos brasileiros parecem não sugerir um horizonte próximo de controle sobre as suas principais causas. Algumas de suas vertentes mais contundentes são os maus tratos a crianças e adolescentes (em geral produzidos pelos próprios pais), a violência entre parceiros íntimos e a violência doméstica contra pessoas idosas.

Estudos realizados pelo Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob a liderança do professor Doutor Michael Eduardo Reichenheim, confirmaram a estarrecedora estatística brasileira de uma mulher assassinada a cada duas horas, projetando o país ao 12° lugar na classificação mundial de homicídios femininos.

Esta alta taxa de homicídios provoca elevados custos pessoais e sociais: ruptura de famílias, sofrimento, revolta, medo e desespero entre amigos e conhecidos das vítimas, em muitos dos casos provocando até transtornos psiquiátricos. Até agressões não fatais deixam quase sempre sequelas temporárias ou permanentes.

Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-IPEA, órgão vinculado à Presidência da República, a violência custou ao Brasil quase US$ 30 bilhões em 2004, dos quais o setor público arcou com quase R$ 28 bilhões (US$ 9,6 bilhões). Neste mesmo ano, as despesas do Sistema Único de Saúde com a violência se situaram em US$ 39 milhões, compreendendo internações hospitalares por agressões, em grande parte relacionadas com tentativas de homicídio.

O outro lado da questão se refere ao florescimento da indústria de segurança, para suprir à ineficiência do Estado. Estudos demonstraram que os homicídios interferem na configuração do espaço urbano, incidindo negativamente junto ao setor imobiliário. Como consequên-cia, ocorrem fechamentos de espaços públicos e construção de comunidades particulares cercadas, para proteção da violência.

Simulações realizadas em alguns bairros de Belo Horizonte constataram que uma queda de 50% na taxa de homicídio determinava o aumento do valor dos aluguéis entre 12 a 16,6%.

Mas os homicídios também determinaram um aumento na economia e geraram renda para a indústria da segurança, com o crescimento da demanda por cercas e grades eletrificadas, carros blindados e equipados com sistemas de alarme, além, é claro, da produção da indústria de armas de fogo.

Para o IPEA, os homicídios propiciaram à indústria da segurança privada um aumento de 73,9% no número de empresas de 1997 a 2007; o equivalente a 45,5% do sistema de serviços de segurança e da indústria de seguros de automóveis.

Enquanto isso, os cidadãos deserdados pelo Estado brasileiro pagam duas vezes para não ter segurança pública.

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