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Preocupados com a importação, metalúrgicos param hoje

08 Jul

Funcionários das cinco grandes montadoras do ABC paulista (Volkswagen, Mercedes Benz, Toyota, Scania e Ford) e de outras fábricas da região e metalúrgicos da cidade de São Paulo cruzam os braços hoje de manhã. Os trabalhadores, contudo, não pretendem cobrar reajustes salariais ou melhores condições de trabalho: eles estão preocupados com o aumento da presença de veículos e de outros produtos industrializados importados no mercado brasileiro, e por isso reivindicam o fortalecimento da indústria nacional.

Juntos pela primeira vez contra as importações, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à CUT, e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, da Força Sindical, organizam ato em frente à porta da Mercedes, em São Bernardo do Campo, e marcham pela Via Anchieta, rodovia que abriga várias indústrias. Na visão de sindicalistas, a valorização do real e altos impostos prejudicam a competitividade da indústria brasileira. Em alguns setores, a produção local já foi trocada pela importação ou mesmo pela abertura de unidades na China, dizem os sindicalistas.

Segundo Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, esse processo de desindustrialização já ocorre com fabricantes de eletroeletrônicos e é grave ameaça para o setor automotivo. Levantamento da LCA Consultores revela que o total de veículos leves comprados do exterior chegou a 23% do total de licenciamentos registrados no país nos três primeiros meses de 2011. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC estima que o Brasil importe pelo menos 1 milhão de carros este ano.

"O problema de competitividade, não só da indústria automotiva, é muito claro. Nosso medo é que as matrizes das montadoras deixem de produzir aqui e desloquem suas operações para a China, onde o custo é muito menor. Aí não sobrará sequer parafusos para a gente apertar", avalia Nobre. O dirigente sindical, que visitou recentemente a matriz da Volkswagen, na Alemanha, teme que a montadora "invariavelmente passe a importar" itens produzidos por sua unidade na China nos próximos anos. "Um terço das produção mundial da Volks já está na China. Nos próximos cinco anos pode chegar à metade." Procurada, a Volks não quis se manifestar.

Nobre conta que a manifestação de hoje é apenas o primeiro passo de uma série de ações. Na segunda-feira, o sindicato organiza um seminário para apresentar os resultados de um estudo da Fundação Vanzolini, que projeta a situação da atividade industrial brasileira, e particularmente da indústria do ABC, daqui 15 anos. Os sindicatos do setor também vão formar uma frente para levantar propostas de enfrentamento da desindustrialização e para dialogar com o empresariado e com o governo.

"O grupo vai solicitar uma audiência com a presidente Dilma e também promover mais manifestações, porque é preciso mobilização social para termos medidas efetivas. Estamos pensando em ir para a Avenida Paulista e expor produtos importados para esclarecer a população sobre as diferenças de qualidade e mostrar que eles não geram emprego no país", conta Nobre.

O setor empresarial também está mobilizado, diz o sindicalista. Recentemente, centrais e Fiesp elaboraram um documento com várias reivindicações. Entre elas, redução da TJLP, aumento do financiamento para micro e pequenas indústrias e isenção tributária para a aquisição de máquinas e equipamentos. O objetivo dessa aproximação é avançar na proposta de criação de comissões tripartites, com a presença do governo, para pensar a política industrial brasileira.

"O setor automotivo está, sim, ameaçado. As importações de veículos vão dobrar em relação ao ano passado, pois existe mercado consumidor forte para isso. As câmaras setoriais dos anos 1990 ajudaram o setor automotivo em tempos de crise lá atrás. Hoje é uma ideia interessante porque pode trazer dinamismo na tomada de decisões para montadoras e outros segmentos, que enfrentam sérios problemas de competitividade", diz Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

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