Cancelar
Acesso CNTV

Arrastões em restaurantes e explosões de caixas eletrônicos alteram comportamento do paulistano

29 Ago

SÃO PAULO - Pinheiros e Vila Madalena são bairros boêmios de São Paulo, onde paulistanos e turistas curtem a noite em bares e restaurantes que se enfileiram nas calçadas. Entre fevereiro e março, no entanto, a paz foi quebrada por uma série de oito arrastões ocorridos em um período de apenas três semanas. Agora, esse tipo de ação já atinge outras regiões, como o Morumbi e a Zona Norte. Na última quarta-feira, dois ladrões foram presos ao tentar fazer um arrastão num restaurante na Avenida Onze de Junho, na Vila Clementino, na Zona Sul, por volta do meio dia.

Desde o começo deste ano, os arrastões a restaurantes já passam de 40. No primeiro semestre, os crimes contra o patrimônio e os roubos, onde se encaixa a modalidade, cresceram quase 10% na capital paulista. Os registros passaram de 270 mil.

Na capital da gastronomia, os arrastões a bares e restaurantes assustam porque o alvo não é o estabelecimento comercial, mas sim os clientes, atacados justamente no momento de lazer, quando baixam a guarda da correria do dia-a-dia e tentam relaxar. Edson Pinto, diretor do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo (Sinhores), adianta que o número de casos não relatados é grande, uma vez que os comerciantes temem afastar a clientela ou represália por parte dos bandidos.

- Muitos clientes também não prestam queixa, porque não querem perder tempo na delegacia - diz ele.

A entidade estima que, para quatro arrastões relatados, um tenha sido omitido, o que dificulta o mapeamento do crime e o trabalho da polícia. Segundo Pinto, os arrastões ocorridos na área nobre da cidade pareciam ações de quadrilhas mais organizadas, o que era demonstrado pelo número de armas, aparato de fuga e comunicação por celulares entre os integrantes dos bandos.

A marca registrada era atacar perto do horário de fechamento da casa, quando havia um número razoável de clientes, mas o ambiente não estava mais muito lotado. Agora, diz ele, as ações não só se espalharam por outras regiões como estão sendo feitas por um número menor de ladrões.

Antes dos restaurantes, o crime da moda já foi os arrastões em prédios e condomínios de luxo. As "saidinhas de banco" também permanecem, ainda que a modalidade tenha deixado de ser o foco das atenções quando as explosões de caixa eletrônico passaram a ganhar repercussão.

- Nosso setor é a bola da vez, como os caixas eletrônicos - reclama Edson Pinto.

O dinheiro levado dos caixas dos restaurantes é pouco. Na maioria dos casos, não passa de R$ 300, já que os consumidores costumam pagar com cartões de crédito. Diferentemente dos caixas eletrônicos, explodidos quando não há ninguém por perto, nos restaurantes a violência é contra as pessoas. Celulares, dinheiro, relógios, joias e qualquer outro objeto de valor aparente são levados.

As pessoas estão com medo de ir a restaurantes à noite. O aspecto emocional é muito importante, existe a sensação de segurança e insegurança. Hoje, a sensação é de insegurança generalizada nos clientes
Numa cidade onde as pessoas não têm como hábito andar a pé pelas ruas e o shopping center já abocanhou boa parte do espaço do comércio de rua, a nova modalidade chega a ser uma ameaça a seu principal atrativo, que é a vida noturna.


- As pessoas estão com medo de ir a restaurantes à noite. O aspecto emocional é muito importante, existe a sensação de segurança e insegurança. Hoje, a sensação é de insegurança generalizada nos clientes - diz Pinto.

Quem trabalha no setor já percebeu o novo comportamento. Vários clientes vão sem relógios ou qualquer outro objeto, apenas com o cartão de crédito no bolso.

- Há um desconforto num momento que deveria ser de relaxamento, um momento lúdico - diz o diretor do sindicato, porta-voz dos comerciantes.

Na avaliação de Luciana Guimarães, diretora do Instituto Sou da Paz, combater o crime contra o patrimônio é o novo desafio da segurança pública em São Paulo. Ela lembra que os números de homicídios só diminuíram quando a Secretaria de Segurança Pública reuniu informações suficientes sobre locais, autores e vítimas de chacinas na periferia das cidades.

- É preciso esforço para entender a dinâmica do crime e ter olhar crítico para os dados e para a investigação. Hoje não temos números oficiais sobre esses crimes da moda e é como enxugar gelo. Temos de juntar as peças do quebra-cabeça e usar a inteligência para enfrentar o problema - diz Luciana.

- Não dá para aceitar que as pessoas tenham receio de sair à rua. A sociedade não pode se render a isso. Nossa grande bandeira é melhorar a qualidade dos dados e poder olhar cada crime a partir de suas especificidades - completa a diretora do Sou da Paz.

Explosões de caixas eletrônicos aumentam sensação de insegurança do paulistano
O Sindicato dos Bares e Restaurantes diz que confia no trabalho da polícia, que já obteve uma trégua aos ataques na área nobre da cidade. Mesmo assim, a recomendação é que os associados instalem câmeras de segurança, orientem os funcionários e manobristas a ficarem atentos à movimentação externa, troquem informações e observem estabelecimentos vizinhos e façam a "sangria", retirada do dinheiro dos caixas, um maior número de vezes por dia.

A saída para conter a violência, diz a entidade, é o policiamento comunitário, no qual as viaturas não apenas circulem nas ruas, mas os policiais se comuniquem com os funcionários, que ajudam a observar o movimento do lado de fora.

- O comércio de rua não pode desaparecer. Não queremos privilégio de policiamento para o setor, é o cidadão que está sendo visado - afirma.

Na cidade de São Paulo, só neste ano, foram 117 explosões a caixas eletrônicos. Os ataques ocorrem em agências bancárias, supermercados e postos de combustíveis. O analista criminal Guaracy Mingardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança, afirma que as quadrilhas que roubavam bancos hoje explodem caixas eletrônicos.

- Com os vigias armados e a polícia chegando mais rápido no local, eles migraram. Mas usam o mesmo aparato e número de criminosos nestas ações. Quando o estado se prepara para trabalhar contra um crime, os criminosos mudam de modalidade. Eles procuram algo lucrativo e de baixo risco - afirma Mingardi.

O perfil dos bandidos que fazem arrastões em restaurantes é diferente dos envolvidos em explosões a caixas eletrônicos, segundo o especialista.

- Muda o "escalão". Um arrastão em um restaurante não rende muito, porque a maioria usa cartão de crédito ou de débito, o chamado dinheiro de plástico. Há R$ 1 mil, R$ 2 mil num caixa e aparelhos celulares de clientes. Quadrilha grande vai para caixa eletrônico, que é mais lucrativo - diz Mingardi.

Segundo ele, esses crimes acontecem com frequência porque o estado é lento.

- Para o estado não correr atrás do prejuízo é preciso analisar e se antecipar. Barrar no começo estas modalidades de crime - fala Mingardi.

0 comentários para "Arrastões em restaurantes e explosões de caixas eletrônicos alteram comportamento do paulistano"
Deixar um novo comentário

Um valor � necess�rio.

Um valor � necess�rio.

Um valor � necess�rio.Mínimo de 70 caracteres, por favor, nos explique melhor.