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Quer chova ou faça sol, tenho que trabalhar

05 Abr



TERESINA, RECIFE e FORTALEZA. O calor é mesmo forte no Piauí, mas nunca foi impedimento para o trabalho, dizem trabalhadores do estado ouvidos pelo GLOBO sobre a declaração do desembargador Marcus Faver, presidente do Colégio Permanente de Presidentes dos Tribunais de Justiça. Ao se manifestar contra a decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de obrigar os tribunais a funcionar de 9h às 18h, de segunda a sexta-feira, Faver disse que no Piauí, por exemplo, é “impraticável†trabalhar das 12h às 15h, devido ao calor intenso.

Lúcio Cândido Xavier, de 49 anos, é vigilante de uma obra na frente do prédio do Tribunal de Justiça do Piauí. Começa a trabalhar às 7h e encerra o expediente às 17h sob o sol quente:

— O calor nunca me atrapalhou no trabalho porque o Piauí é quente mesmo. Nasci aqui e trabalho há 24 anos. Nunca fiquei doente por causa do calor.

Outro operário, Francisco Santana Sousa, de 35 anos, que trabalha na construção do Fórum Criminal do TJ das 7h às 17h, também estranhou:

— Trabalhar no calor e no sol forte do Piauí não é bom, mas a gente se acostuma porque sempre viveu no Piauí. Nunca deixei de trabalhar por causa do calor. Se não é impedimento para mim, por que vai ser para trabalhar no ar-condicionado?

O carteiro Antônio Cândido de Taveira, de 35 anos, protestou:

— A sensação térmica em Teresina é de mais de 50 graus. Além do calor, trabalhamos de bicicleta levando até 18 quilos de correspondência e isso causa mal-estar.

O presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, desembargador Edvaldo Moura, disse que as altas temperaturas e o calor não serão obstáculos para obedecer à decisão do CNJ:

— A Justiça tem um compromisso com a população e não pode deixar de estar efetivamente empenhada em resolver os problemas da população. Sou inteiramente a favor — disse.

Para o desembargador, o problema é o Tribunal de Justiça não ter número suficiente de funcionários para atender a exigência do CNJ.

— O Piauí e Teresina têm clima quente, mas trabalho normalmente, e há muitos juízes que trabalham de manhã e também fazem audiências à tarde — disse. O expediente do TJ do Piauí é das 7h às 14h.

— A Justiça já tem muito recesso, no Natal, no Ano Novo, no carnaval, na Semana Santa e no São João. Agora quer recesso até do calor. É demais ouvir isso, principalmente para quem trabalha no calor o dia inteiro, sabendo que juízes e desembargadores passam o dia no ar-condicionado — reagiu o vigilante Rivaldo José de Souza, de 42 anos, que trabalha há 14 nesse serviço e nunca desfrutou do conforto de um aparelho de ar-condicionado.

Motorista há 17 anos, Júlio Soares Farias, de 38, não sabe o que é trabalhar em lugar refrigerado. Com uma toalha sempre enxugando o suor do rosto, ele lembra que, além do clima quente de Recife, ainda enfrenta o calor do motor do ônibus que dirige:

— À medida que vão chegando mais passageiros, o calor vai subindo, o interior do carro vai ficando mais abafado. Mas isso nunca foi impedimento para trabalhar. A gente não tem aquelas regalias. Mas eles têm a Justiça nas mãos, fazem as leis a favor deles mesmos. Quer chova ou faça sol, tenho que trabalhar. Enquanto uns se matam de trabalhar, outros fazem de tudo para não trabalhar muito — disse.

O gari Jairo Paulo da Silva, 42, é outro que trabalha sob calor intenso. Ele fica nas ruas de Recife das 7h10m às 15h30m, e afirma que o pior horário é a partir do meio-dia. Ele varre ruas e calçadas, protegido só por um filtro solar que passa no rosto:

— Noventa por cento do meu serviço são no sol e no calor. Isso não impede ninguém de trabalhar.

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