Cancelar
Acesso CNTV

Vigilância privada

11 Fev

Proposta de disciplinar ação de vigilantes ressalta falhas do poder público na área de segurança, apesar de avanços registrados nos últimos anos Há um componente jornalístico -o da coincidência irônica- na notícia de que o próprio ex-secretário da Segurança Pública do Estado Saulo de Castro Abreu Filho teve sua casa assaltada na noite de segunda-feira. Atual titular da pasta estadual dos Transportes, ele foi mantido como refém por três horas, ao lado da mulher, da filha e de uma amiga. A ironia do acontecimento -se cabe o termo diante de uma situação dramática e dolorosa- não se resume, entretanto, ao fato de ter sido um secretário a vítima. O que deve ser assinalado, sem o espírito destrutivo e fácil que a alguns inspira o infortúnio de autoridades, são as declarações do delegado-geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro Lima. "Somente a polícia", disse ele, "não consegue resolver problema dessa envergadura". A declaração, em tudo infeliz, vem no momento em que os Estados de São Paulo e Rio divulgam a redução de seus índices de violência, em especial da taxa de homicídios -processo liderado pelos paulistas na última década. Desde 1999, a queda dos assassinatos em São Paulo ultrapassou 70%. Em 2010, foram registrados 10,48 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. A cifra representa menos da metade da média nacional (24,5) e está muito próxima do limiar considerado aceitável internacionalmente -de 10 homicídios por 100 mil pessoas. São avanços, sem dúvida, auspiciosos, mas que não bastam para debelar a chamada "sensação de insegurança" do cotidiano dos cidadãos. Arrastões em condomínios, assaltos em shoppings e roubos a bancos à luz do dia, entre outros delitos, continuam a fazer parte do dia a dia de São Paulo e das grandes cidades do país.

Nesse contexto, quem dispõe de meios para tanto recorre a guardas particulares. Há tempos que vigilantes de rua, com suas guaritas, motocicletas, automóveis ou simples cadeiras sobre as calçadas, tornaram-se personagens comuns na paisagem urbana. É preciso regulamentá-los e conectá-los à polícia, diz o delegado paulista, que parece ter visto no episódio uma oportunidade para terceirizar a ampliação da rede "pública" de vigilância. Conceitualmente, trata-se de uma impotência sobreposta a outra. Incapaz de garantir a segurança aos cidadãos, o Estado convive com a proliferação de serviços privados; num segundo momento, desperta e dispõe-se a oficializar o que não deveria existir, caso os impostos pagos pelos contribuintes tivessem sido usados com a necessária eficiência. Diante do fato consumado, no entanto, menos mal que se procure disciplinar a atividade dos vigilantes autônomos, cadastrando-os e definindo os parâmetros de sua atuação. Mesmo porque em alguns casos são eles uma fonte de insegurança para o cidadão, que se sente constrangido a contratá-los com receio de que se voltem contra seu patrimônio.

0 comentários para "Vigilância privada"
Deixar um novo comentário

Um valor � necess�rio.

Um valor � necess�rio.

Um valor � necess�rio.Mínimo de 70 caracteres, por favor, nos explique melhor.